Toda empresa fala sobre inteligência artificial. Mas será que IA sozinha resolve os desafios da saúde?
A resposta é não.
No episódio #8 do TopCast, o Dr. Ademar Paes Júnior, médico radiologista, presidente da Unimed Grande Florianópolis e CEO da Lifes Hub, explica por que dados organizados são o verdadeiro alicerce da inovação em saúde.
Com quase 20 anos trabalhando com inovação, o Dr. Ademar mostra que o futuro da saúde depende muito mais de como gerimos dados do que da IA em si.
Neste artigo, você vai descobrir por que dados organizados são o verdadeiro alicerce da inovação em saúde, o tripé essencial (big data + interoperabilidade + IA) e como avaliar a maturidade da sua empresa. Confira!
O que é inovação em saúde?
Inovação em saúde vai muito além de inteligência artificial. É a aplicação de tecnologia para transformar a forma como pensamos, praticamos e gerimos o cuidado com as pessoas.
Não se trata apenas de criar sistemas ou implementar ferramentas. A inovação, de fato, acontece quando tecnologia gera impacto positivo no cuidado ao paciente, melhora eficiência operacional e torna a saúde mais acessível.
O Dr. Ademar identificou três grandes eixos onde a inovação acontece, confira esses pilares no próximo tópico:
1. Indústria de equipamentos
Desenvolvimento de ressonâncias magnéticas, bombas de infusão, carrinhos de anestesia avançados. Tecnologia de ponta aplicada a dispositivos médicos.
2. Farma e biotecnologia
Drogas inovadoras, exames genéticos, marcadores biológicos, ensaios clínicos. Toda área de desenvolvimento farmacêutico e biotecnológico.
3. Dados e tecnologia da informação
Big data, aplicativos de saúde, prontuários eletrônicos, telemedicina. No Brasil, esse é o eixo que mais se desenvolve, especialmente em polos como Florianópolis.
O terceiro eixo tem um detalhe crucial: o substrato principal para todas essas inovações digitais são os dados.
70% dos CEOs acham que estão atrasados em IA
Um estudo da McKinsey revelou algo preocupante: 70% dos CEOs e founders de empresas acham que estão atrasados em relação à incorporação de inteligência artificial.
Impressionante não é mesmo?! IA entrou em praticamente todas as reuniões de planejamento estratégico. Gestores se perguntam: “Onde podemos colocar IA? Como gerar eficiência?”
Mas o Dr. Ademar alerta: o problema não é falta de IA. O problema é falta de dados organizados.
Empresas têm volumes enormes de informação escondidos em 20, 30 sistemas ligados.
Cada um guardando seus dados sem conversar entre si. Nesse cenário, implementar IA não resolve nada.
Por isso, torna-se fundamental que as organizações implementem uma cultura de dados sólida como parte da cultura organizacional. Mas, fica o questionamento: o que é cultura de dados? Este é o tópico do próximo tópico!
O que é cultura de dados?
Cultura de dados não é fazer curso em Harvard. Não é apenas responsabilidade do CEO ou do time de tecnologia.
Cultura de dados precisa permear toda organização, desde a recepcionista até o C-level.
O Dr. Ademar dá um exemplo prático: o cadastro é o indexador primário de muitas empresas. Como você registra um nome? Com abreviação ou completo? Telefone com hífen ou ponto?
Parece detalhe pequeno. Mas essas “pequenas falhas” comprometem toda estratégia de dados no futuro. E corrigir depois sai astronomicamente caro.
Uma recepcionista que não foi treinada pode achar que uma falha no cadastro não compromete o atendimento, desde que o paciente saia satisfeito. Mas aquela falha pode ser invisível e devastadora para análises futuras.
Cultura de dados é respeito pela informação. É entender que dado é ativo estratégico da empresa.
O tripé da inovação: Big Data + Interoperabilidade + IA
Há uma frase que resume tudo: “Não existe big data sem interoperabilidade e não existe inteligência artificial sem big data.”
O Dr. Ademar explica que inovação funciona como um tripé com três pilares integrados:
- Big Data: capacidade de trabalhar com volumes massivos de informação. A Lifes Hub, por exemplo, trabalha com 12 a 20 bilhões de linhas. Um Excel convencional comporta 1.500 linhas.
- Interoperabilidade: dados precisam conversar entre sistemas diferentes. Sem isso, você tem ilhas de informação que não geram valor.
- Inteligência Artificial: ferramentas de processamento que extraem insights e fazem automações.
A ciência da computação tem três etapas: input, processamento e output. IA atua no processamento. Se o input (dados) não está organizado, o output será prejudicado. Simples assim.
Como avaliar nível de maturidade de dados da empresa?
Antes de falar em IA, é preciso avaliar honestamente: qual o nível de maturidade de dados da sua empresa?
Perguntas essenciais:
- Dados estão estruturados e armazenados adequadamente?
- Sistemas conversam entre si?
- Existe padronização na coleta de informações?
- Dados são guardados por norma ou pensando em estratégia futura?
Muitas empresas se consideram “digitais” porque eliminaram papel. Mas paperless não é digital de verdade. Digital significa pensar dado como produto estratégico, não como subproduto.
Quando você faz uma prescrição eletrônica ou registra atendimento, está criando dado por obrigação regulatória ou para tomar decisões melhores no futuro?
A resposta a essa pergunta define maturidade.
Inovação começa pelos dados
Inovação em saúde exige mais que hype de inteligência artificial. Exige dados organizados, interoperáveis e uma cultura que valorize informação como ativo estratégico.
70% dos CEOs estão preocupados com atraso em IA. Mas a solução não é implementar IA desesperadamente. É fazer o dever de casa: estruturar dados, criar interoperabilidade, construir cultura organizacional.
Como o Dr. Ademar resume: não existe IA sem big data, e não existe big data sem interoperabilidade.
Quer entender a fundo como big data e IA transformam a saúde no Brasil?