Outubro Rosa: mais que prevenção, uma jornada de conquistas e empoderamento feminino

Mulheres brasileiras de diferentes idades celebrando o Outubro Rosa e empoderamento feminino

O laço rosa que colore o mês de outubro carrega consigo muito mais que um alerta sobre o câncer de mama. Ele simboliza décadas de luta feminina por reconhecimento, direitos e, principalmente, pelo controle sobre os próprios corpos e destinos. Quando falamos de prevenção e autocuidado, falamos também de empoderamento, e essa conexão tem raízes profundas na história das conquistas femininas ao longo dos anos. 

 

Por trás do laço rosa 

Das primeiras mobilizações ao movimento global 

O Outubro Rosa nasceu em 1990, quando a Fundação Susan G. Komen distribuiu laços cor-de-rosa aos participantes da primeira Corrida pela Cura, em Nova York. O que começou como uma iniciativa local rapidamente se transformou em um movimento mundial, chegando ao Brasil nos anos 2000. 

Você pode estar se perguntando por que esse movimento ganhou essa força toda… A resposta está ligada à evolução do papel da mulher na sociedade. Durante séculos, questões relacionadas à saúde feminina eram tratadas como tabus, envolvidas em mistério e vergonha. O Outubro Rosa também é uma forma de representar a quebra desses paradigmas, onde temos mulheres falando abertamente sobre seus corpos, exigindo acesso à informação e tratamento digno. 

Mãos de mulheres segurando laço rosa simbolizando união no movimento Outubro Rosa

O contexto brasileiro: saúde como direito 

No Brasil, o movimento chegou em um momento crucial, pois os anos 2000 marcavam uma nova era de políticas públicas voltadas para a saúde da mulher, reflexo direto das conquistas do movimento feminista nas décadas anteriores. A mamografia pelo SUS, o direito à reconstrução mamária, o acesso a tratamentos oncológicos… Tudo isso é resultado de mulheres que ousaram exigir seus direitos. 

 

Empoderamento feminino: das lutas histórias aos desafios atuais 

As mulheres brasileiras percorreram um caminho árduo até aqui. Vale lembrar alguns marcos fundamentais: 

1827 – Acesso à educação básica: mulheres são autorizadas a frequentar escolas e dar continuidade aos estudos além da escola primária. 

1832 – “Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens”: Nísia Floresta publica a obra pioneira do feminismo brasileiro, sendo a primeira brasileira a discutir a diferença de gênero e defender o respeito igualitário às mulheres. 

1852 – Jornal das Senhoras: primeiro jornal editado e direcionado para mulheres, defendendo que elas não deveriam se limitar apenas às atividades domésticas. 

1879 – Acesso ao ensino superior: mulheres conquistam o direito de ingressar em faculdades e universidades. 

1910 – Partido Republicano Feminino: criação do primeiro partido político feminino, que reivindicava o direito ao voto e à emancipação feminina. 

1932 – Direito ao voto: conquista do sufrágio feminino através do primeiro Código Eleitoral brasileiro, resultado da organização de movimentos feministas do início do século XX. 

1933 – Carlota Pereira de Queirós: eleita a primeira deputada federal brasileira. 

1940 – Mobilização das mulheres negras: através do jornal “Quilombo, vida, problemas e aspirações do negro”, inicia-se o debate sobre questões de gênero e raça no Brasil. 

1962 – Estatuto da Mulher Casada: mulheres casadas não precisam mais de autorização do marido para trabalhar, ganham direito à herança e podem pedir a guarda dos filhos em casos de separação. 

1974 – Lei de Igualdade de Oportunidade de Crédito: mulheres conquistam o direito de ter cartão de crédito sem discriminação por gênero ou estado civil. 

1977 – Lei do Divórcio: o divórcio torna-se uma opção legal no Brasil. 

1979 – Liberação para prática de esportes: revogação do decreto que proibia mulheres de praticar esportes considerados “incompatíveis com as condições de sua natureza”, incluindo o futebol. 

1983 – Dia Internacional da Mulher Indígena: criado em 5 de setembro para registrar o enfrentamento e a luta da mulher indígena, inspirado em Bartolina Sisa, índia aimará que liderou rebelião contra conquistadores espanhóis em 1781. 

1985 – Primeira Delegacia da Mulher (DEAM): criada em São Paulo a primeira Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher, modelo replicado em outros estados. 

1988 – Primeiro Encontro Nacional de Mulheres Negras: aproximadamente 450 mulheres negras promovem eventos em diferentes estados para debater o feminismo negro.  

1988 – Constituição Federal: mulheres passam a ser reconhecidas como iguais aos homens perante a lei. 

2002 – Novo Código Civil: extinto o artigo que permitia anulação do casamento por “falta de virgindade” da esposa. 

2006 – Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06): marco legal no combate à violência doméstica, nomeada em homenagem à farmacêutica Maria da Penha, vítima de violência que a deixou paraplégica. 

2012 – Lei Carolina Dieckmann (Lei 12.737/12): tipifica crimes cibernéticos e invasão de privacidade na internet, após caso de divulgação de fotos íntimas da atriz. 

2014 – Dia Nacional da Mulher Negra: instituído em 25 de julho, Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola do século XVIII em Mato Grosso. 

2015 – Lei do Feminicídio (Lei 13.104/15): feminicídio é reconhecido como crime de homicídio qualificado. 

2018 – Lei de Importunação Sexual (Lei 13.718/18): assédio e importunação sexual passam a ser considerados crimes. 

2021 – Lei 14.192/21: estabelece normas para prevenir e combater a violência política contra mulheres durante eleições e no exercício de funções públicas. 

Cada uma dessas conquistas representa não apenas mudanças legais, mas transformações profundas na estrutura social brasileira. 

Mulher brasileira profissional representando conquistas femininas no mercado de trabalho

Os princípios do empoderamento das mulheres nas empresas 

Por que as empresas importam nessa jornada? 

Quando pensamos em empoderamento feminino nas empresas, estamos falando de mais do que cargos preenchidos por mulheres, trata-se de mudar a cultura, oferecer oportunidades reais, garantir que as vozes femininas influenciem decisões estratégicas e, assim, permitir que saúde e bem-estar façam parte desse novo ambiente. Não é por acaso que iniciativas globais como o Pacto Global da ONU estabeleceram o ODS 5, dedicado justamente a alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas, um reconhecimento de que essa transformação é essencial para o desenvolvimento sustentável de toda a sociedade. 

Organizações que investem em equidade de gênero descobrem que benefícios vão além do social: a diversidade de pensamento, a empatia na liderança e a sensibilidade a desafios da vida pessoal fazem com que os times se tornem mais resilientes e engajados. A voz feminina nas empresas corrige desigualdades históricas, promove comportamentos inclusivos e amplia inovação.  

A presença feminina nas lideranças também é reforçada pelos Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs, da ONU Mulheres), que recomendam que empresas estabeleçam liderança sensível à igualdade de gênero, promovam bem-estar, saúde e valorizem as mulheres em todos os níveis da organização.  

  

O 7 princípios que a ONU Mulheres estabeleceu para o empoderamento feminino nas empresas 

  1. Liderança corporativa de alto nível: estabelecer metas e políticas claras para igualdade de gênero.
  2. Tratamento justo no trabalho: garantir igualdade de oportunidades, incluindo políticas de recursos humanos livres de discriminação.
  3. Saúde, segurança e fim da violência: proporcionar condições de trabalho seguras, considerando aspectos diferenciados de exposição a riscos.
  4. Educação e formação: investir em políticas e programas de capacitação para mulheres.
  5. Desenvolvimento empresarial: implementar ações de marketing e cadeia de suprimentos que empoderem mulheres.
  6. Liderança e engajamento comunitário: promover igualdade através de iniciativas comunitárias e defesa pública.
  7. Transparência e prestação de contas: medir e reportar publicamente os progressos na igualdade de gênero.
Equipe feminina diversa em reunião corporativa representando empoderamento nas empresas

Além das empresas: o empoderamento no dia a dia 

O empoderamento feminino transcende o ambiente corporativo. Ele se manifesta em: 

  • Autonomia sobre o próprio corpo: incluindo decisões sobre saúde reprodutiva e preventiva 
  • Independência financeira: controle sobre recursos econômicos próprios 
  • Participação política: voz ativa nas decisões que afetam suas vidas 
  • Acesso à educação: capacitação contínua e desenvolvimento pessoal 
  • Rede de apoio: sororidade e suporte mútuo entre mulheres 
Mulher praticando exercício físico ao ar livre representando autocuidado e empoderamento pessoal

A conexão entre Outubro Rosa e Empoderamento 

Quando uma mulher realiza o autoexame ou busca uma mamografia, ela está exercendo poder sobre sua própria vida. Esse ato aparentemente simples carrega consigo toda uma história de luta pelo direito à saúde, à informação e ao próprio corpo. 

O Outubro Rosa nos lembra que: 

  • O conhecimento sobre nosso corpo é poder 
  • A prevenção é um direito, não um privilégio 
  • Falar abertamente sobre saúde feminina quebra tabus históricos 
  • O autocuidado é uma forma de resistência 

 

No Brasil, segundo o INCA, o câncer de mama representa 29% dos casos novos de câncer em mulheres. Quando detectado precocemente, as chances de cura podem chegar a 95%. Esses números não são apenas estatísticas, são vidas de mulheres que puderam continuar suas jornadas, suas lutas, suas conquistas. 

 

Uma jornada que continua 

O Outubro Rosa nos lembra que cada conquista feminina foi duramente alcançada, e que a jornada está longe de terminar. Quando uma mulher se empodera, ela não apenas transforma sua própria vida – ela abre caminhos para todas que virão depois. 

A prevenção do câncer de mama é mais que um cuidado médico; é um ato político de afirmação do direito à vida, à saúde e à dignidade. É a materialização de décadas de luta por reconhecimento e igualdade. 

Neste Outubro Rosa, que possamos honrar as que vieram antes de nós continuando sua luta. Que possamos cuidar de nossa saúde não apenas como um ato individual, mas como parte de um movimento coletivo de empoderamento. E que possamos lembrar sempre: nossa força está em nossa união, nosso poder está em nosso conhecimento, e nosso futuro está em nossas mãos. 

O empoderamento feminino não é sobre ser melhor que ninguém, é sobre ter o direito de ser quem somos, com saúde, dignidade e oportunidades iguais. O Outubro Rosa nos lembra disso todos os anos, mas essa é uma luta de todos os dias. 

Três gerações de mulheres brasileiras juntas simbolizando legado e continuidade das conquistas femininas
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